O Monge

Minha mente acelerada, deixou de ser uma vantagem quando acelerou contra mim. Situações cotidianas viravam desafios sem solução e um medo esmagador chegava e ficava.

Foi aí que a meditação apareceu como uma ferramenta para frear a minha mente que estava desgovernada, sem rumo.

Quem me ensinou sobre meditação também não tinha cabelo, não se vestia de forma extravagante, nem vivia no centro da cidade. Foi com um aplicativo de celular que conheci os conceitos e iniciei a minha jornada meditativa.

Descobri o termo: atenção plena, uma característica minha, que perdi quando me permiti uma mente multi atarefada, romantizada pela ideia de produtividade compulsiva.

Era um celular e fones de ouvidos me convidando a sentir o cheiro da leve mas não imperceptível brisa que entrava pela janela, sentir o peso e a textura da roupa sobre minha pele, a ouvir os sons que chegavam das mais diferentes distâncias.

E foi numa das práticas que pude visitar uma memória muito gostosa.

Nela eu pedia a alguém: me coloca lá no meio do terreiro?

Lá eu ficava horas, livre e sozinho, sentado na cadeira de rodas… O sol descia, a lua ficava fina e delicada, como uma unha no céu… O cheiro do gramado não se misturava, acompanhava o cheiro do curral ao lado… Um chocalho lento tocado pelo vento nas folhas das árvores mais altas acompanhava o canto ritmado da passarada… Som que abaixava até dar lugar pra um ruído fino e contínuo dos insetos, cadenciado pelo coaxar que vinha de longe…

Em tom de brincadeira, lá da casa a minha avó me gritava: Júnior, você come macarrão? Só queria ouvir minha voz, saber se tava tudo bem comigo…

Mal sabia ela, mal sabia eu, tudo nunca esteve tão bem.

Barulho de mata, cheiro de roça. Essa saudade não mata, nossa mão não toca.

O Monge é meu gatilho da minha capacidade de contemplação e reflexão, sobre o agora, sobre o simples e mais real da vida, do belo e único agora. E ainda que eu esteja sozinho, estarei comigo se meus pensamentos estiverem focados no agora.